ATLETAS SEM MEDALHA

09/08/2024

A CRÔNICA DA SEMANA

Por Pedro Paulo Paulino

Bronze, prata, ouro? Nem uma das três. No verdadeiro campo de disputa e batalha de milhões de brasileiros, não há troféus nem medalhas. As olimpíadas são diárias o ano todo. Mas não há pódio. Não há bronze, prata nem ouro. As modalidades são incontáveis, num ritmo de competição quase selvagem. São atletas incansáveis nos estádios e pistas do embate sem trégua pela subsistência. Do catador de lixo ao gari, da faxineira ao caminhoneiro, o jogo da vida é uma constante matemática obrigatória, independente de inverno e verão, outono e primavera.

São atletas sem a menor visibilidade, exceto em ano de campanha política eleitoral, a exemplo deste ano, quando nossos milhões de competidores são assediados de todas as formas, na busca desenfreada pelo voto, seu único objeto precioso, aliás, única medalha concedida e surrupiada ao mesmo tempo.

A tocha olímpica de milhões de competidores brasileiros não é acesa apenas a cada quatro anos. Diariamente, esse imenso pelotão de Prometeus batalhadores conduzem a chama de alguma forma, para, nesse jogo sem fim, satisfazer não apenas, como na Grécia antiga, os doze deuses do Olimpo, mas em todos os momentos, satisfazer alguns milhares de deuses que lá estão no conforto dos seus tronos, herdados diretamente por meio das urnas, que se tornaram eletrônicas, quiçá para responder de forma instantânea à ânsia sem medida dos que buscam ferrenhamente as benesses do poder.

Nossos atletas sem medalhas, sem medalhas continuarão para sempre. Milhões de Atlas conduzindo nos ombros o peso do trabalho mal remunerado ou nem remunerado, ou do trabalho escravo ou sem os seus direitos legais, que no fim dá na mesma.

São milhões sempre os nossos atletas anônimos, na competição acirrada e avassaladora pelo pão de cada dia. Não há vitoriosos. Há apenas sobreviventes, entoando sempre a mesma nota dó do hino triste da pobreza, miséria e mendicidade. Participamos orgulhosamente das Olimpíadas de Paris e lá conquistamos medalhas. Mas aqui, no solo pátrio, nossos verdadeiros atletas continuam disputando um prato de comida. “Brasil é o 2º país do G20 com maior percentual de pessoas abaixo da linha da pobreza”, é o que se lê no noticiário.

Nessas olimpíadas cruéis e permanentes, as eliminações por conta da violência de rua e do campo continuam também batendo recordes, com ênfase em vítimas negras, indígenas, mulheres e jovens. Emergindo, felizmente, desse marasmo, dos guetos da violência e da pobreza, em um país racista, conservador e organicamente hipócrita, rendemos sinceros parabéns a uma jovem filha de faxineira, cujo bronze da pele foi buscar medalha de ouro em pleno colorido da cidade-luz. Rebecca Andrade, ginasta artística brasileira bicampeã olímpica e a maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas, com seis medalhas, inclusive duas ouros, para somar a conquistas anteriores. Palmas.