OS SANTINHOS ESTÃO VOLTANDO
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
A CRÔNICA DA SEMANA
Pedro Paulo Paulino
7/20/2024
Eles estão retornando. Os santinhos bissextos, uma vez mais, descem das alturas para, embaixo na terra, refazerem sua peregrinação, por tudo quanto é buraco, batendo de porta em porta, distribuindo simpatia, aperto de mão, abraços e tapinhas nas costas. Chegam incensados, aureolados, puros, imaculados, reinventando assuntos e propostas salvadoras, apontando caminhos e soluções para todos os problemas. Não recebem promessas de seus devotos; do contrário, os santinhos bissextos fazem, eles mesmos, as promessas. E tantas são, que não têm conta.
Todos os esforços são por eles feitos, na busca incansável e ansiosa pelo óbolo do povo, em forma de voto, no dia sagrado do pleito. Há desses santinhos que se mortificam, penitenciam-se, rogam piedosamente, batem-se, empenham a própria alma e a de quem mais estiver ao seu alcance, para conquista da alma do povo expressa em forma de voto, no dia sagrado do pleito. Porque só com essa conquista suada, duramente concorrida e cheia de obstáculos, os santinhos bissextos conseguem a canonização para mais quatro anos paradisíacos.
No período batizado de campanha, eles sobem nos palanques, como se estivessem subindo no altar, na condição de santidades, sem impurezas. Os que já são cobras criadas no poder, claramente alegarão benesses inimagináveis conquistadas em favor do povo, projetos mirabolantes executados, alegações formidáveis de benfeitorias em prol dos mais carentes. Porque essas duas palavras, “mais carentes”, passaram a constituir a expressão mais lídima na boca dos demagogos irremediáveis. E vale mesmo a pena recorrer a discursos mofados e apelativos na batalha sem preço pela conquista do trono.
Afinal, são quatro anos de regozijos, sentados no trono plantado no éden do poder, à direita ou à esquerda do supremo vil-metal. Durante esses quatro anos, os santinhos bissextos praticamente olvidam as legiões de almas penadas que neles depositam seu precioso voto, e voltam-se exclusivamente para dar vida a interesses próprios premeditadamente agendados.
Depois de mais uma temporada de quatros anos, todos eles baixam novamente das alturas do trono celestial do poder, para encarar mais uma peregrinação em busca do óbolo do povo, o voto sacramentado. E o povo, uma vez mais, cumpre seu dever, num país democrático, de eleger obrigatoriamente a legião de santinhos que desfrutarão, por mais quatro anos, das benesses do paraíso, nos poderes executivo e legislativo municipais, especialmente, os de número mais vultoso de suas santidades: prefeitos e vereadores.